Quando vou ao encontro do outro, seja para dialogar, fazer negócios juntos, me relacionar afetivamente, não sei exatamente o que aquele outro pensa ou sente. Não conheço sua história, suas crenças e sua moral. Não tenho muita certeza de qual é a visão de mundo dessa pessoa.
Quando vou ao encontro do outro, vou ao encontro do desconhecido. O desconhecido nos causa medo. Com o medo em nós, podemos fugir do encontro, saindo da situação ou nos fechando em nós mesmos, ou podemos agir apesar deste medo que surge.
Seguindo pelo caminho da fuga, perdemos a oportunidade de ir ao encontro do outro, logo, eu permaneço como estou e o outro também. Não há tensão. Não há energia gerada naquele encontro. Logo, não há combustível para mudanças.
Seguindo pelo caminho da ação, é possível que o impulso que nos leva a superar o medo seja o impulso da indignação, da raiva, da agressividade. Aqui estou usando todos esses termos como sinônimos, estou falando daquela energia calorosa que vibra dentro de nós quando vivenciamos situações nas quais nossos valores não são contemplados. Situações que considero injustas, por exemplo, fazem com que essa energia seja gerada em mim. Essa energia da agressividade faz parte do impulso natural humano.
Agora, como irei manifestar essa energia, como irei comunicar esses valores importantes pra mim são escolhas possíveis a partir da nossa habilidade, também complementa humana, de raciocinar, de trazer consciência para as situações e escolher a forma de nos expressarmos.
Em uma cultura da violência, a agressividade vira sinônimo de violência. Como se a única forma de manifestar minha agressividade fosse através da violência. E o que seria essa violência? O que é ser violento? Segundo Jean-Marie Muller, “Ser violento significa servir-se da pessoa dos outros simplesmente como um meio, sem considerar que os outros, como seres racionais, devem sempre ser respeitados ao mesmo tempo como fim”.
E essa cultura da violência se manifesta, segundo o mesmo autor, “quando, sob efeito da influência social, os indivíduos orientam seu comportamento privilegiando a violência como meio normal de defender sua comunidade ante as ameaças que pensam sobre ela.”
A violência é enaltecida e cultuada a todo momento. Em desenhos animados vemos o herói dando uma surra no vilão, na justiça vemos a lógica de “bandido bom é bandido morto”, na política uma guerra de nós contra eles, nas religiões extremismos fatais sem fim, na indústria o investimento e fabricação ininterrupta de armas de fogo.
Os meios de comunicação em massa, com um papel bem importante na formação e manutenção da cultura, despejam cenas de violência a todo momento sem explicar exatamente sobre a origem dessa violência. A violência é banalizada e tão presente no nosso dia a dia, inclusive em nossas ações, que nem paramos mais pra questioná-la. Assim, vivemos em uma cultura da violência sem nos darmos conta disso.
Então, como posso expressar minha agressividade sem ser violento?
Marshall Rosenberg, proponente da Comunicação Não Violenta, traz uma possibilidade de receber essa energia da agressividade dentro de nós e transformá-la.
“Para ser didático, às vezes digo que a raiva é como a luz de alerta no painel do carro: ela transmite informações úteis sobre as necessidades do motor. Ninguém vai querer escondê-la, desligá-la ou ignorá-la. É preferível desacelerar o carro e descobrir o que essa luz está tentando lhe dizer.” - Marshall Rosenberg
Utilizar a raiva para entendermos o que naquela situação não está em conformidade com nossas necessidades daquele momento e, a partir desse momento, escolher estratégias eficazes e não violentas para alcançar essas necessidades.
Fiz um vídeo falando sobre como lidar com a raiva através da Comunicação Não Violenta:
Experimentar formas de expressar o que está vivo em você de forma autêntica e estar aberto para ouvir o outro com empatia são exercícios constantes de autoconhecimento e autodesenvolvimento.
“Como ser racional, o homem possui a faculdade de se libertar, pouco a pouco, dos condicionamentos e dos confinamentos da cultura, para construir, pouco a pouco, seu pensamento, sua moral, sua filosofia.” — Jean-Marie Muller
Referências
O princípio da não violência - Jean-Marie Muller
Vivendo a Comunicação Não Violenta - Marshall Rosenberg
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